Vejo, enrolado ao teu pescoço,aquele cachecol. Voa ao vento, e suspira-me encantos e desalentos de uma vida ainda por viver e escrever.
Enquanto passeias pelas ruas atribuladas de uma cidade desconhecida, caem folhas outonais, que atravessam o teu cachecol. Desejas sempre sentir o vento fresco e o seu cheiro amarelado. Nunca te foi fácil descrever esse vento: uma brisa fresca, húmida que te trazlágrimas ao canto do olho, por pura natureza humana. Pretendes não descodificarrazões, aceita-las como um encanto.
De rompante, anoitece. Encontras aí a felicidade de mais um dia na tua vida. Vês uma noite a abrir às seis da tarde, e uma rutura do que veio antes.
E, entre desesperanças esperas o melhor – num nervosismo amiúde tão típico, de que o amanhã será melhor – se é que o hoje não te contenta já.
Outrora haviam brisas quentes, sufocantes para o teu cachecol, num verão tão seco, entre suspiros e suores.
É na primeira tarde mais aconchegadora do ano, na primavera, onde o céu se encontra arroxeado e, novamente no teu passeio diário, encontras mais um momento perfeito. É altura de te despedires e te renovares com onomatopeias tão próximas de ti.
É o cachecol cinzento que te cumprimenta e me cumprimenta, de longe, da minha janela.
Da minha janela te vi, te vejo e sempre verei.
Para um dia te oferecer outro cachecol, talvez cinzento, talvez branco. Mas será o teu cachecol.
Ana Sofia Gomes