Desculpem Se Vos Ofendi

Nos dias que correm, um judeu, um paraplégico e uma mulher já não podem entrar num bar. Qualquer que seja o desfecho, por si só, já é preconceituoso, estereotipado, ofensivo. Ora, sou apoiante dos direitos humanos, da igualdade de género, da comunidade  lgbtq e das minorias , mas não quer dizer que não aprecie a piada banal e ocasional que é relembrada numa conversa de café.

Muitos dos movimentos ativistas ou muitos dos comentadores conhecedores do facebook se alimentam e atacam com o argumento da ofensa. Em termos simplistas, ofensa é todo e qualquer ato, comportamento ou discurso que faz com que outra pessoa seja vítima de injustiça, através de palavras ou ações depreciativas, que possuem a capacidade de injuriar ou afrontar. No entanto, na pós-modernidade, esta palavra- e muitas mais- tomou proporções exacerbadas, aplicando-se a tudo o que possa ser dito como verdadeiro, mas ouvido como falso ou discordante. Os maiores alvos dos ditos “ofendidos” são os humoristas e as figuras públicas, sendo que o que dizem tem uma vasta visibilidade.   

No entanto, pode-se afirmar que tem de haver o mínimo de politicamente correcto para viver numa sociedade harmoniosa. Por exemplo, indivíduos como o Sr. Trump abriram portas ao descalabro, ao escandaloso e à suposta liberdade de expressão de tudo se poder dizer. Consequentemente, abriu portas para que tudo pudesse ofender.

Este sentimento individual de ofensa, que por sua vez se torna coletivo por afluências, de que falo, corre o risco de ser uma censura totalitária que passa despercebida. Não só políticos, humoristas, mas qualquer indivíduo que tenha uma noção mais ou menos aproximada da realidade, autocensura-se, por receio das consequências repreensivas que possam advir do seu discurso ou ato.

Sei perfeitamente onde, com quem, como e quando posso fazer uma piada sobre um deficiente, ora, estes também têm o direito de ser gozados, não quero ser acusada de discriminação. Porém, se o fizer, hei de o ser, também. Dado isto, é uma situação em que estamos entre a espada e a parede.

Então, entra um judeu, um paraplégico e uma mulher num bar… e o resto? O resto é simplesmente ofensivo. Mas, com certeza que, noutra altura, vos faria rir.

Maria Madalena Freire

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