No Papel dos que Vivem no Vazio

Para onde vamos nós?

Onde estamos nós?

No que nos transformamos nós?

O Homem pode ser cruel, desfaz-se a si mesmo em pedaços que nunca se poderão reconstruir, mete-se a si próprio em buracos de onde nunca vai poder sair. O Homem é cruel. Consigo próprio na verdade ele o é. 

Porque é que já não nos aguentamos?

Em que buraco nos metemos para querermos sair e não conseguirmos?

Onde estás? Onde estou? 

Já te ouço os gritos de socorro, mas não te consigo socorrer. Já me doem os músculos, já quebrei os ossos, já vomitei as tripas e o coração. Já não consigo mais e ainda assim me levanto de novo para ir. Não sei para onde, apenas para ir. 

Sinto o corpo balançar entre braços que me arrastam para um infinito sem lugar. Só queria um lugar, diz-me ele. Desculpa, não to consigo dar, digo-lhe eu. 

Cura-me desta aflição de não te ter e de ainda assim te querer. Às vezes, não é fácil amar. Dói-me tanto que só quero gritar para me libertar. Eu nem sei do quê. Isto disse-me ele no dia em que a noite não se apagou e o dia não começou. 

Olho-me ao espelho e já nem sei quem sou. A construção perfeita do que queriam que fosse? Oxalá eles ouçam o teu grito, que é nosso. 

Nunca se soube tão bem que o Homem se visse assim como agora, mas mesmo assim falta-nos tanto para que não lhe falte nada. 

Esta sou eu. Às vezes, sei bem quem sou. Outras nem tanto. Mas nas minhas incertezas, tenho sempre a certeza de que há um lugar para mim. Hoje, na pele dos que vivem no vazio, sem lugar onde descansar, para lembrar que há sempre lugar onde tudo pode recomeçar.

Maria Rodrigues

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